A Secretaria de Estado da Saúde (SES) promove neste sábado (8) o “Dia D” de vacinação para todas as crianças de 1 a 4 anos de idade que devem ser vacinadas contra a poliomielite (paralisia infantil). Já para as crianças menores de 1 ano será avaliada a situação vacinal, iniciando ou completando a caderneta de acordo com a idade. Será um dia também para alertar sobre a importância de seguir o esquema vacinal. As Unidades Básicas de Saúde (UBS) de todo o estado estarão abertas para imunizar as crianças contra a paralisia infantil.
Muita gente não se lembra, mas décadas atrás era comum que crianças fossem acometidas pela poliomielite ainda nos primeiros anos da infância. A doença causada pelo poliovírus selvagem, que invade o sistema nervoso, pode causar paralisia em pernas e braços e deixar sequelas motoras por toda a vida. Até os anos 1980, ao menos 1.000 crianças ficavam paralisadas a cada dia no mundo em decorrência da pólio, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa realidade mudou, inclusive no Brasil, graças à vacinação, que é a única forma até hoje criada de prevenir a poliomielite.
Desde 2016, porém, a adesão à vacinação vem caindo no país, o que fez a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, incluir o Brasil na lista das nações que correm o risco da reintrodução do vírus da pólio. Na visão dos especialistas, quanto menos pessoas vacinadas, sobretudo as crianças que são mais vulneráveis ao vírus, maior o risco de a doença voltar a se espalhar.
Até 3 de junho, no estado de SP, foram vacinadas 36.786 crianças entre 1 a 4 anos de idade, de acordo com o Painel de Monitoramento do Ministério da Saúde (MS). Os números apresentam uma baixa adesão do público-alvo, conforme explica a enfermeira e diretora da Divisão de Imunização da Secretaria de Estado da Saúde, Ligia Nerger.
“É de extrema importância que os pais ou responsáveis levem as crianças para se vacinar, pois, ainda que a doença tenha sido eliminada no Brasil, outros países apresentam casos de pólio, o que traz o risco de reintrodução da doença. Portanto, os níveis de baixa adesão são preocupantes”, afirma.
Para garantir o acesso a essa e outras vacinas, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) faz campanhas anuais para lembrar a população de manter a proteção em dia. A Campanha Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite deste ano, promovida pelo Ministério da Saúde, ocorre até 14 de junho, embora a vacina continue disponível nas unidades básicas de saúde após a data. A meta é vacinar 95% do público-alvo, que abrange 13 milhões de crianças menores de cinco anos. Em 2023, 84,63% do público-alvo foi vacinado contra a pólio no Brasil, dado maior do que os 77% de 2022, segundo o Ministério da Saúde.
“Se não alcançarmos essa meta para garantir uma proteção em massa, vamos ter uma população vulnerável. A possível entrada do vírus entre viajantes deixa uma porta aberta para a reintrodução da doença. A única forma de fechar essa porta é vacinar toda a população-alvo”, afirma a gerente de Farmacovigilância do Butantan e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mayra Moura.
Esse risco existe porque, segundo a OMS, o vírus da poliomielite circula de forma endêmica no Paquistão, na Nigéria e no Afeganistão, mas alguns casos foram detectados em outros países nos últimos anos. Estes são indicativos de que o poliovírus continua se espalhando e que pode se propagar em qualquer ambiente onde a população não estiver majoritariamente protegida.
O relatório da OMS mostra que a cobertura global de imunização, incluindo a poliomielite, caiu de 86% em 2019 para 81% em 2021.
Paralisia, pulmão de aço e Zé Gotinha
A poliomielite começou a se propagar no Brasil ainda no começo do século XX e deixou uma legião de crianças com sequelas motoras e neurológicas. “Era comum ver crianças adoecendo, morrendo ou ficando com sequelas motoras por causa da doença. Foi por causa da pólio que foi criada a Associação de Assistência à Criança com Deficiência (AACD) no Brasil”, afirma a gerente de Farmacovigilância do Butantan.
Uma das vacinas contra a poliomielite criadas ainda na década de 50 – a em gotas Sabin – chegou a ser aplicada no Brasil, especialmente após a criação do PNI em 1973. Porém, a pouca oferta e a baixa adesão da população impediram a contenção dos surtos. “Além da paralisia, a poliomielite causa uma grande dificuldade de respirar e era comum ver crianças tendo que usar máquinas artificiais, conhecidas como pulmões de aço”, relembra.
Foi apenas após a criação em 1980 de um plano global de imunização contra a pólio, organizado pela OMS em 175 países, incluindo o Brasil, que a doença começou a ser contida realmente.
A campanha de vacinação contra a paralisia infantil, como passou a ser chamada no Brasil, criou o inesquecível Zé Gotinha e se tornou bastante popular. O nome do personagem fazia uma menção direta à vacina oral contra a pólio (VOP), que era dada em gotas. Em 1989, o Brasil parou de registrar casos de pólio e, em 1994, a doença foi erradicada no país.
Menor percepção de risco = menor procura por vacinas
O sucesso na erradicação da doença, por sua vez, mudou a percepção da população sobre a gravidade da pólio. As pessoas pararam de ver crianças doentes e adultos com sequelas, o que deu a sensação de que a doença não existia mais, mesmo sem a vacinação – o que não procede porque é a vacinação que mantém a erradicação do vírus ainda em voga.
“Quem não vê a doença, não vê a gravidade dela e nem a importância da vacinação, embora o vírus continue existindo mundo afora. Basta o vírus encontrar pessoas suscetíveis, como as não vacinadas, para elas adoecerem, transmitirem a doença e os casos crescerem exponencialmente”, afirma Mayra Moura.
Perguntas e respostas sobre a vacinação contra a poliomielite
1- Quem deve tomar a vacina?
A vacina contra a poliomielite está prevista no calendário do Programa Nacional de Imunizações (PNI) para todas as crianças menores de 5 anos. O esquema vacinal é de três doses da vacina injetável (VIP) aos dois, quatro e seis meses de idade, e dois reforços da vacinal oral bivalente (VOP) aos 15 meses e aos 4 anos.
2- Mesmo quem já tomou todas as vacinas deve se vacinar de novo?
Sim. Mesmo as crianças com o esquema inicial e com as doses de reforço completos devem receber a vacina na campanha sazonal. Elas receberão uma dose da VOP (da gotinha). Crianças que não tiverem completado o esquema vacinal receberão o imunizante injetável para concluí-lo.
3- A criança somente estará protegida com o esquema completo?
Sim. Ela estará protegida contra a poliomielite somente quando completar o esquema de três doses da vacina injetável contra a poliomielite (VIP), chamado esquema primário. As duas doses de reforço garantem o prolongamento dessa proteção, assim como as doses das campanhas sazonais.
4- Por que a necessidade desse reforço agora?
A Campanha Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite acontece anualmente nesta época do ano desde a década de 1980. Ela não deve ser considerada excepcional, mas uma forma de reforçar a importância de mantermos a cobertura vacinal de 95% das crianças menores de cinco anos em todo o país, para evitar o risco de novos surtos da doença por aqui.
5- Quais as vacinas usadas contra a poliomielite?
Dois tipos de vacinas contra a poliomielite são usadas na região das Américas: a vacina oral atenuada (VOP) e a vacina injetável inativada (VIP). Antigamente, a VOP continha três tipos de poliovírus. Após a declaração de erradicação do poliovírus selvagem tipo 2, em 2016, o sorotipo 2 foi retirado. Apenas a vacina VOP com sorotipos 1 e 3, conhecida como VOPb, foi continuada. Os países estão substituindo gradualmente esse produto pela vacina VIP – que será o caso do Brasil a partir do segundo semestre deste ano.
6- Quais os efeitos colaterais da vacina contra a poliomielite?
A maioria dos vacinados não apresenta efeitos colaterais, mas raramente pode ocorrer vermelhidão e inchaço no local da vacinação injetável.
7- A vacina tem contraindicações?
Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações, a VOP é contraindicada para gestante, pessoas que sofreram anafilaxia após o uso de componentes da vacina em especial os antibióticos neomicina, polimixina e estreptomicina; pessoas com doenças do sistema imunológico causadas por doenças ou medicamentos e pessoas que vivem com HIV. A VIP é contraindicada para pessoas com histórico de alergia grave (anafilaxia) à dose anterior da vacina ou a algum de seus componentes.
8- Como se contrai a poliomielite?
O vírus é transmitido de pessoa a pessoa por via fecal-oral ou, menos frequentemente, por um meio comum (água ou alimentos contaminados, por exemplo) e se multiplica no intestino.
9- Quais sintomas podem indicar um caso de poliomielite paralítica?
Deve-se suspeitar de poliomielite em crianças não vacinadas ou parcialmente vacinadas com sintomas semelhantes aos da gripe (febre, dores musculares, dores de cabeça, falta de apetite) e que parecem estar se recuperando, mas que tenham retorno dos sintomas em alguns dias. Pode ocorrer ainda diminuição da força nas pernas ou braços e dificuldade para andar. A diminuição da força progride rapidamente para a paralisia, geralmente desigual entre os membros afetados.
10- Como confirmar que se trata de poliomielite?
Uma amostra de fezes deve ser analisada em laboratório para avaliar a detecção ou não do poliovírus. A amostra deve ser coletada em até 14 dias a partir do início da paralisia.
Tem alguma dúvida sobre a vacinação?
O Governo de SP, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, criou o portal “Vacina 100 Dúvidas” com as 100 perguntas mais frequentes sobre vacinação nos buscadores da internet. A ferramenta esclarece questões como efeitos colaterais, eficácia das vacinas, doenças imunopreveníveis e quais os perigos ao não se imunizar. O acesso está disponível no link: https://www.vacina100duvidas.sp.gov.br/
Siga o canal “Governo de São Paulo” no WhatsApp:
https://bit.ly/govspnozap